A calcinha fio dental é uma peça íntima bastante popular entre as mulheres, seja pela discrição que proporciona com roupas mais justas, estética ou preferência pessoal. Porém, apesar de seus benefícios no guarda-roupa, o uso frequente pode representar riscos à saúde íntima — principalmente quando há descuidos na higiene e na escolha dos materiais.
Como médica infectologista, alerto para alguns cuidados fundamentais que muitas vezes são ignorados. Neste artigo, vou falar sobre os riscos associados ao uso frequente da calcinha fio dental, explicar como minimizar esses problemas e orientar sobre quando é melhor evitá-la.
A anatomia feminina e a importância da proteção
O corpo da mulher tem características anatômicas e fisiológicas que o tornam mais suscetível a infecções na região íntima. A proximidade entre a uretra, a vagina e o ânus favorece a migração de microrganismos, principalmente quando há atrito constante ou má ventilação da área genital. A calcinha fio dental, por ser muito estreita e frequentemente feita com tecidos sintéticos, pode contribuir para esse desequilíbrio.
Além disso, a região íntima possui um microbioma natural — ou seja, um conjunto de bactérias benéficas — que ajuda a proteger contra agentes patogênicos. Quando esse equilíbrio é rompido, o risco de infecções como candidíase, vaginose bacteriana e infecções urinárias aumenta consideravelmente.
Principais riscos do uso frequente da calcinha fio dental
A seguir, destacamos os principais problemas de saúde relacionados ao uso recorrente da calcinha fio dental:
- Infecção do trato urinário (ITU)
Um dos principais riscos está na maior possibilidade de migração de bactérias da região anal para a uretra. Como a calcinha fio dental fica em constante contato com essas áreas e pode se mover com os movimentos do corpo, ela pode facilitar esse transporte de microrganismos como a Escherichia coli, uma das principais causadoras de infecções urinárias.
- Vaginose bacteriana e candidíase
O atrito constante do tecido da calcinha com a mucosa vaginal pode causar pequenas irritações e alterar o pH da região íntima. Isso favorece a proliferação de fungos e bactérias indesejadas.
Além disso, tecidos sintéticos impedem a ventilação adequada, criando um ambiente quente e úmido, o que é ideal para o desenvolvimento de infecções como candidíase (causada por fungos do gênero Candida) e vaginose bacteriana.
- Irritação e assaduras
A costura fina e o formato da peça podem causar atrito na pele da vulva, do períneo e do ânus. Com o uso prolongado, isso pode gerar irritações, assaduras, coceiras e até microfissuras, abrindo portas para infecções.
- Transmissão de ISTs
Embora qualquer tipo de roupa íntima possa estar envolvida em relações sexuais, é importante mencionar que o uso da calcinha fio dental durante o contato íntimo pode facilitar o contato entre mucosas e a pele lesionada, o que pode aumentar o risco de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis, especialmente se houver pequenas feridas ou irritações pré-existentes.
Quando evitar o uso da calcinha fio dental?
Não se trata de acabar com essa peça do vestuário íntimo, mas sim de entender em que situações ela pode representar um risco maior à saúde:
- Durante a prática de atividades físicas, como academia ou corrida, especialmente se você for propensa a candidíase ou infecções urinárias;
- Em dias muito quentes, quando há maior sudorese na região íntima;
- Durante infecções ativas, como candidíase ou vaginose, para evitar agravamento do quadro;
- Em períodos menstruais, mesmo com absorventes internos, pois o atrito pode intensificar irritações;
- Quando você irá passar muitas horas com a mesma peça íntima, como em viagens longas.
Dicas para quem gosta da peça, mas quer se cuidar
Se você se sente confortável usando a calcinha fio dental e deseja continuar com o hábito, aqui vão algumas recomendações para evitar problemas de saúde:
Escolha bem o tecido
Prefira calcinhas feitas com tecidos respiráveis, como o algodão, pelo menos na parte do forro. Tecidos sintéticos como renda, poliéster e lycra não absorvem a umidade e podem aumentar a proliferação de microrganismos.
Evite usar por longos períodos
Não há problema em usar fio dental ocasionalmente, por algumas horas. No entanto, evite ficar com a mesma peça o dia todo, principalmente se você estiver em movimento ou exposta ao calor.
Higiene em primeiro lugar
Troque a calcinha todos os dias e, se possível, após atividades físicas. Lave a peça com sabão neutro e enxágue bem para não deixar resíduos que possam irritar a pele.
Durma sem calcinha
Deixar a região íntima “respirar” à noite é uma forma simples e eficaz de manter o equilíbrio da flora vaginal e evitar a umidade excessiva.
Fique atenta aos sinais do corpo
Coceira, corrimento com odor forte, ardência ao urinar e dor durante o sexo são sinais de que algo está errado. Procure um médico ao notar qualquer sintoma incomum.
Você usa calcinha fio dental? Procure o infectologista se perceber incômodos
Muitas mulheres enfrentam infecções recorrentes sem saber que pequenos hábitos, como o uso frequente de determinadas roupas íntimas, podem estar por trás do problema.
Consultas regulares com um profissional de saúde são fundamentais para entender melhor o seu corpo e adotar estratégias de prevenção mais eficazes.
Na infectologia, nosso foco está em identificar e tratar infecções, mas também em orientar sobre os comportamentos que podem evitá-las. Cada organismo é único, e nem todas as mulheres terão os mesmos efeitos ao usar uma calcinha fio dental.
No entanto, é importante saber dos riscos, especialmente se você já tem predisposição a infecções urogenitais.
Caso precise de ajuda, entre em contato e venha se consultar comigo.