Quando pensamos nos malefícios do cigarro, a primeira imagem que vem à mente costuma ser a dos pulmões prejudicados. De fato, doenças pulmonares como bronquite crônica, enfisema e câncer de pulmão são consequências graves e bem conhecidas do tabagismo.
No entanto, o cigarro não se limita a causar danos respiratórios. Ele compromete diversos sistemas do organismo — e, talvez menos comentado, mas igualmente preocupante, é o impacto que o tabagismo tem sobre o sistema imunológico e a suscetibilidade a infecções.
Neste artigo, vou mostrar como o cigarro enfraquece as defesas naturais do corpo e abre portas para infecções bacterianas, virais e fúngicas, afetando muito mais do que os pulmões. Entender essa relação é um passo importante para conscientizar a população sobre os riscos menos visíveis, porém muito reais, do tabagismo.
O cigarro e o sistema imunológico: uma relação tóxica
O tabaco contém mais de 7 mil substâncias químicas, muitas delas tóxicas e inflamatórias. Entre os principais efeitos do cigarro está a alteração da resposta imunológica do organismo.
Fumantes, mesmo os jovens e aparentemente saudáveis, apresentam um sistema de defesa menos eficiente. Essas substâncias causam:
- Diminuição da atividade dos macrófagos e neutrófilos, que são células responsáveis pela defesa contra microrganismos invasores;
- Redução da produção de anticorpos;
- Inflamação crônica, que desgasta o organismo e interfere na resposta imune natural;
- Disfunção da barreira mucosa, especialmente nas vias respiratórias, tornando mais fácil a entrada de agentes infecciosos.
Na prática, isso significa que o corpo de um fumante não apenas se defende pior de infecções, como também demora mais para se recuperar delas.
Infecções respiratórias: as mais frequentes
O sistema respiratório é o mais afetado pelo tabagismo e, consequentemente, o mais vulnerável a infecções. Entre as mais comuns estão:
1. Pneumonia
Fumantes têm maior risco de desenvolver pneumonia, tanto viral quanto bacteriana. Isso acontece porque o cigarro prejudica a função dos cílios das vias aéreas, estruturas responsáveis por “varrer” impurezas e microrganismos. Sem essa proteção, os pulmões ficam expostos à invasão de agentes patógenos.
Além disso, o cigarro altera a flora bacteriana do trato respiratório, favorecendo o crescimento de bactérias agressivas e resistentes.
2. Tuberculose
A relação entre tabagismo e tuberculose é amplamente documentada. Fumantes têm mais chances de se infectar com o Mycobacterium tuberculosis, desenvolver a forma ativa da doença e apresentar desfechos piores, como sequelas pulmonares permanentes ou até óbito.
Estudos apontam que o risco de desenvolver tuberculose é até três vezes maior entre fumantes do que entre não fumantes.
3. COVID-19 e outras infecções virais
Durante a pandemia de COVID-19, evidências científicas mostraram que fumantes apresentavam maior risco de desenvolver formas graves da doença, com maior necessidade de internação, intubação e mortalidade. Esse risco ampliado não se limita ao coronavírus, mas também se aplica a outros vírus respiratórios, como o da gripe (influenza) e o VSR (vírus sincicial respiratório).
Mais do que pulmões: o cigarro e infecções em outras partes do corpo
O impacto do cigarro no risco de infecções vai além do sistema respiratório. Veja alguns exemplos:
Infecções bucais
Fumar afeta a microbiota da boca e reduz a circulação sanguínea nas gengivas, facilitando o surgimento de gengivite, periodontite e abscessos dentários. Além disso, a cicatrização de feridas na boca é mais lenta em fumantes, o que aumenta o risco de infecção após extrações dentárias ou outros procedimentos.
Infecções urinárias
Mulheres fumantes têm maior risco de infecções do trato urinário, e, em casos de cirurgia urológica, o risco de infecção no pós-operatório também é mais alto. Isso se deve à combinação de resposta imune comprometida e menor capacidade de cicatrização.
Infecções cutâneas e pós-operatórias
O cigarro prejudica a circulação periférica, o que compromete a oxigenação e a nutrição dos tecidos. Isso aumenta o risco de infecções de pele, úlceras de difícil cicatrização (como as úlceras diabéticas) e infecções em feridas cirúrgicas.
O cigarro e o risco de infecções em imunossuprimidos
Pacientes que já possuem o sistema imunológico comprometido — como portadores de HIV, transplantados, pessoas em tratamento oncológico ou com doenças autoimunes — sofrem ainda mais com os efeitos do cigarro. Nesses casos, o tabagismo pode potencializar o risco de infecções oportunistas e dificultar o controle de doenças já existentes.
Fumantes passivos: também em risco
Não podemos esquecer dos fumantes passivos. Crianças, idosos e adultos expostos à fumaça do cigarro também apresentam maior suscetibilidade a infecções, especialmente respiratórias.
Em crianças, por exemplo, há aumento no risco de otites, bronquiolites, asma e pneumonia. Em idosos, o cigarro passivo pode agravar doenças crônicas e facilitar infecções pulmonares graves.
Abandonar o cigarro reduz o risco de infecção
A boa notícia é que o corpo humano tem uma incrível capacidade de recuperação. A partir do momento em que o paciente para de fumar, o sistema imunológico começa a se regenerar. Em poucos meses, a função dos cílios respiratórios melhora, a circulação sanguínea se normaliza e as células de defesa se tornam mais eficientes.
Além disso, parar de fumar ajuda a potencializar o efeito de vacinas, reduzir o risco de infecções hospitalares e melhorar a resposta a tratamentos médicos em geral.
Portanto, se você fuma, considere buscar apoio para parar. Há tratamentos eficazes e acessíveis, e profissionais de saúde prontos para ajudar.
Cuidar da sua imunidade começa por escolhas diárias e abandonar o cigarro é uma das mais importantes.